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A Experiência Pediátrica da COVID-19 num Hospital Português: Uma Análise Clínica Retrospetiva
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Resumo
Introdução: Desde que a Organização Mundial de Saúde anunciou a doença pelo novo coronavírus (COVID-19) como pandemia, o seu impacto faz-se sentir diariamente. Comparando com os adultos, a evidência sugere que a COVID-19 nas crianças resulta em sintomas mais ligeiros.
Métodos: Descrição dos casos de COVID-19 diagnosticados no serviço de urgência pediátrica do Hospital de Cascais entre março e outubro de 2020, através da análise retrospetiva da clínica, achados laboratoriais, tratamento e evolução. Os dados foram obtidos dos registos hospitalares e da plataforma TRACE COVID, após consentimento informado dos cuidadores.
Resultados: Das 1974 crianças testadas, 67 (3%) foram diagnosticadas com COVID-19, com mediana de idade de seis anos, sem predomínio de género. A maioria das crianças apresentou febre (76%) e sintomas respiratórios (43%). Cefaleias (30%) e mialgias (10%) foram também frequentemente reportadas. Sintomas gastrointestinais foram descritos em 43% das crianças, enquanto 6% referiram anosmia ou ageusia. A confirmação diagnóstica foi realizada através da pesquisa de SARS-CoV-2 por técnica reverse transcriptase polymerase chain reaction (RT-PCR) em amostras de exsudado orofaríngeo e nasofaríngeo. A avaliação laboratorial foi efetuada em cinco crianças (7%) e os achados incluíram leucocitose e elevação da proteína C reativa (PCR). Três crianças (4%) realizaram radiografia de tórax, todas sem alterações sugestivas de pneumonia associada à COVID-19. A gravidade da doença variou de ligeira e moderada, sem complicações e sem necessidade de tratamento de suporte ou terapêutica antiviral específica. Apenas um doente foi transferido para hospital terciário; os restantes tiveram alta para o domicílio. Foi possível aferir a evolução clínica em 63 crianças (94%), verificando-se uma mediana de cinco dias até resolução sintomática.
Conclusão: Os resultados desta série são semelhantes aos descritos em casuísticas internacionais e na única casuística nacional publicada em 2020 por um hospital terciário, sugerindo-se que, as crianças apresentem uma melhor evolução clínica que os adultos.