Artigos de Revisão

Manifestações Cutâneas na Pandemia COVID-19

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Pedro Ponte
Joana Cabete
Rui Tavares-Bello
Palavras-chave:
COVID-19, Infecções por Coronavírus, Manifestações Cutâneas, SARS-CoV-2

Resumo

Várias manifestações cutâneas têm sido descritas em associação à infecção pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). Estas incluem as dermatoses observadas na infecção COVID-19, aquelas secundárias ao seu tratamento e, paralelamente, as alterações cutâneas relacionadas com a utilização de equipamento de protecção individual e com as medidas de higiene pessoal.
As dermatoses associadas ao SARS-CoV-2 podem resultar da acção directa do vírus na pele ou de mecanismos indirectos de toxicidade resultante de fenómenos imunológicos, incluindo da tempestade de citocinas observada nos casos mais graves. A sua frequência (de 0,2% a 20,4% nas séries reportadas) e cronologia parecem ser variadas e, com algumas excepções, na maioria dos casos é difícil estabelecer uma relação entre a manifestação cutânea e a gravidade da infecção COVID-19. As manifestações cutâneas mais comuns podem ser classificadas como exantemáticas (erupção pápulo-vesiculosa, erupção morbiliforme), de padrão vascular (perniose-like, lesões purpúricas ou petequiais, livedo), de padrão urticariforme e ainda acro-papuloso. Nas crianças têm sido descritos raros casos de síndrome inflamatória multissistémica pediátrica. Num doente com COVID-19 e manifestações cutâneas não se deve, também, excluir a possibilidade de estas representarem uma reacção cutânea aos vários fármacos usados no seu tratamento.
No contexto da pandemia e do uso frequente, ou mesmo continuado, de equipamento de protecção individual e com as constantes lavagens e desinfecções das mãos, assiste-se a um aumento de dermatoses (sobretudo da face e das mãos) não só em profissionais de saúde, mas também na população geral. Dermatoses mecânicas ou de fricção, dermites de contacto irritativa e alérgica, eczemas xerótico e desidrótico são algumas das mais comuns, observando-se também um agravamento de dermatoses pré-existentes como acne, rosácea, dermite seborreica ou eczemas já diagnosticados, bem como ao seu aparecimento de novo em indivíduos sem patologia prévia.
No seu conjunto, as manifestações cutâneas directa ou indirectamente relacionadas com a pandemia COVID-19 vieram alterar a prática dermatológica. O seu conhecimento contribui para a identificação de casos suspeitos de COVID-19, melhorar os cuidados em doentes com infecção conhecida, e alertar para a necessidade de ajustar os cuidados dermatológicos diários de toda a população, procurando simultaneamente prevenir dermatoses ocupacionais em profissionais na linha da frente no combate à pandemia.

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Pedro Ponte, Serviço de Dermatologia, Hospital Lusíadas Lisboa, Lisboa, Portugal.

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